Seis Formas de Morrer no Texas (Elsinore, 2020)

Seis Formas de Morrer no Texas, de Marina Perezagua.

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Tradução de Guilherme Pires. Edição da Elsinore.

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«Pai, tens de saber uma coisa, algo que terei dificuldade em explicar-te, mas que poderia resumir em duas palavras: não vivi. Mas quando digo que não vivi não quero dizer que estar presa ou privada de liberdade não seja viver. Seria uma estupidez defender essa ideia. O inferno é o inferno porque o sentimos com todas as faculdades do estar vivo, sentimo-lo na pele, cheiramo-lo, vemo-lo, ouvimo-lo, e se nos parecer que nos dão um instante de alívio, de repente alguém fecha a boca do condenado e força-o a ruminar o fogo. Chamar a este sítio corredor da morte é dar-lhe um nome inadequado, pois neste lugar sentimos o correr da vida, que flui debaixo do chão, pelas paredes que nos mantêm cativas ou em nós mesmas, que se ouve nos esgotos, nas tubagens, nas artérias da mulher que, enlouquecida, grita que não quer continuar a viver e, contudo… contudo, sabe que é a vida, e não ela, quem está a gritar.»