Peter Pan (Livraria Lello, 2020)

Peter Pan, de J. M. Barrie

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Tradução de Guilherme Pires. Revisão de Cristina Oliveira. Edição da Livraria Lello, com direcção e coordenação editorial de Teresa Mendonça.

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«Todas as crianças crescem, exceto uma. Percebem muito cedo que se tornarão pessoas crescidas, e a Wendy ficou a sabê-lo deste modo: um dia, quando tinha dois anos, estava a brincar num jardim, arrancou do chão uma flor e correu, com ela na mão, até à sua mãe. Suponho que a menina tivesse um ar encantador, pois a Senhora Darling levou a mão ao peito e exclamou:

— Oh, quem me dera que ficasses assim, pequenina e linda, para sempre!

Naquele dia, nada mais do que isto que aconteceu entre elas a este respeito, mas desde então a Wendy soube que teria de crescer. A partir dos dois anos, ficamos sempre a saber isto. Os dois anos são o princípio do fim.

Viviam no número 14, e até a Wendy ter nascido, a mãe dela era a pessoa mais importante da casa. Era uma senhora muito bonita, com um espírito romântico e uma boca doce e trocista. O seu espírito romântico assemelhava-se às caixinhas que vêm do Oriente misterioso, umas dentro das outras — por mais caixas que vamos tirando, haverá sempre outra à nossa espera; e a sua boca doce e trocista guardava um beijo que a Wendy nunca conseguira receber, embora este ali estivesse, perfeitamente evidente, no canto direito dos lábios da mãe.»